sábado, 28 de janeiro de 2012

A nova vizinha...


Todas as tardes, em minhas desventuras em direção à padaria ou indo à casa de meus amigos, sempre passei naquela calçada. Sempre olhei para o lindo jardim dos vizinhos. Não que me causasse inveja, era só por achar bonito mesmo. Eu nem tentava cuidar de um jardim, achava muito despendiosa essa tarefa. Um dia desses um carro de mudanças chegou trazendo novos móveis, novos moradores e uma nova flor ao jardim. Não digo literalmente, mas era a moça que viria todas as tardes cuidar daquelas flores que tanto admirei. Não sei o que mais me encantava, se eram seus cabelos caindo por cima dos olhos, seus lábios gordinhos, tua sobrancelha levemente inclinada ou sua delicadeza com o jardim... O problema é que agora eu passava na calçada, dava um oi pra flor, digo, pra moça, mas as outras eu esquecia, não me chamavam tanta atenção. E essa moça foi me cativando com seus breves acenos, breves sorrisos e breves olhares... Chegou ao ponto de eu suplicar à minha mãe que me mandasse à padaria ou à casa de alguém que morasse depois da casa da vizinha todos os dias!
Após dois dias que não a via, decidi perguntar porque ela faltou com as flores, e talvez, conhecê-la mais um pouco. Fui pela manhã na casa da moça e um rapaz atendeu a porta, possivelmente seu irmão mais velho.

- Olá, eu gostaria de falar com a... menina do jardim... Não lembro o nome dela, mas sempre conversamos quando passo aqui. - Me senti meio constrangido em nunca ter perguntado o nome dela e ter que mentir assim.
- Ahh, você está falando da Juliana? - O rapaz parecia meio abatido.
- Siiim, Juli, exatamente, ela está? - Avancei na minha cara-de-pauzisse.
- Ela veio morar aqui por um tempo, sabe, mas teve que voltar pra Porto Alegre, pra casa de nossa mãe.
- Ok. Ela volta quando? Sabe dizer?
- Não sei. Ela apenas pareceu estranha e deixou um bilhete para eu entregar ao "garoto dos pães". Sabe quem é esse? É você?
- Sim. - Fiquei sem saber o que dizer. Aquela moça, a maior motivação dos meus dias, lembrou de mim!

O irmão da Juliana trouxe-me o bilhete e fui embora, agradeci-o pela hospitalidade. Mais tarde tornaríamos grandes amigos. Ao chegar em casa, abri o bilhete, percebi um perfume de flores, talvez o próprio perfume da moça das flores. E nele haviam as seguintes palavras:

"Oi garoto que gosta de comprar pães todas as tardes, ou simplesmente de passar na frente da casa do meu irmão. rsrs... Espero que você tenha vindo me procurar, ou então nunca irá ler essa carta. Gostaria de deixar uma tarefa simples pra você. Converse com meu irmão e cuide das flores por mim. Tive que voltar pra casa pra começar um tratamento, embora não terei muito tempo. O médico disse que seriam algumas semanas, ou um mês talvez. Mas a doença que possuo é rara, talvez sem cura. E há algo que preciso te contar mais que tudo: me encantei demais com você. Guardarei todas as tardes em meus pensamentos, até meu último dia. Cuide das flores por mim, moço dos pães, como cuidaria de mim. Talvez eu não volte."

Após ler este bilhete, demorou um pouco para que a "ficha caísse" realmente. Algumas lágrimas caíram do meu rosto, evidentemente. Nem porisso deixei de todos os dias ir à casa do Jeferson, irmão da Juliana, cuidar das flores que foram cúmplices do que sentíamos... Embora algumas vezes eu às regasse com minhas lágrimas incontidas. A moça das flores... Ela não voltou. Mas cada flor que desabrochava diminuia a tristeza e o tempo que perdi e poderia ter usado para ficar ao lado dela.

6 comentários:

  1. Incrivelmente lindo... Muitas vezes, perdemos grandes oportunidades pelo medo de tentar ou por idealizar a beleza do "deixar subentendido"... Porém, como dizia Lennon: vida é aquilo que acontece enquanto estamos fazendo outros planos ...

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  2. Hugo, fiquei presa do começo ao fim no conto, e realmente, amigo... MUITO LINDO, muito emocionante! Uma pena ela ter partido, porque seria maravilhoso ver um outro desfecho, com os dois juntos!
    Adorei, me lembrou os finais de Nicholas Sparks!
    Beijos, e fica com Deus sempre!

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  3. Uma bela história, as lembranças fazem parte das nossas vidas...

    Saudaçoes

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  4. Nossa,que liiiiindo *_*
    Quero um vizinho desses.HAUAHAUAHUAAUA.


    Ah,flores.Eu amooooooooo flores,de verdade!
    E até no texto,elas dão um toque de sutileza *_*
    Lindo,lindo <3


    Beeijão ^^

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  5. Ainda bem que é só um conto... se fosse pessoal, sentiria dó de você '-'
    Mas, é triste (lembrei de "Um Amor Para Recordar").

    Suzi
    http://emyhouseplus.wordpress.com/

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